quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Oficina de colagem - arte e criatividade - para dependentes químicos


Em 2011, uma das alunas dos workshops que realizo na pós-graduação em Arteterapia da UNIP pediu autorização para passar o meu contato a uma amiga cujo filho havia sido internado em uma clínica para dependentes químicos. Em conversa com a amiga, então futura arteterapeuta, a mãe enxergou a possibilidade do trabalho artístico que venho desenvolvendo com as oficinas ser levado ao seu filho. 

Em novembro de 2011, com a anuência do proprietário da Clínica Sul Med, Pastor Alessandro Rodrigues, realizei duas oficinas para cerca de 60 pacientes, em duas unidades da instituição, não atendendo apenas ao rapaz indicado, mas a todos que estavam voluntaria ou involuntariamente internados.


Clínica Sul Med – Unidade Itapeva – MG

Neste primeiro trabalho na Clínica Sul Med propus aos cerca de 60 participantes, em duas oficinas, que produzissem um quadro de colagem em papel cartão 15 x 15 cm, com temática livre. O resultado foi excelente. 

Esclareço que ao realizar a atividade não faço qualquer referência à arteterapia, proponho tão somente, de forma lúdica, uma atividade artística. 

Após a oficina, sem a minha presença, soube que os profissionais da clínica realizaram um bate-papo com os pacientes para que cada um pudesse falar do seu trabalho. 

Abaixo alguns dos trabalhos realizados na primeira oficina, em 2011






Bastante satisfeito com o resultado alcançado, decidi retornar à Clínica SulMed em mais duas oportunidades, em agosto e setembro de 2012, já com um novo grupo de participantes. 

Na primeira oportunidade, em agosto de 2012, realizei oficina de dia inteiro, para cerca de 40 participantes, das 9h00 às 19h00, com pausa apenas para o almoço, e de hora em hora, 10 minutos para o tradicional cigarrinho. Na parte da manhã propus aos participantes que produzissem uma colagem em papel cartão 15 x 15 cm, com temática livre.  

Alguns trabalhos produzidos na segunda oficina, em agosto de 2012.





Já na parte da tarde os participantes dividiram-se em dois grupos de 20 e propus que cada um deles produzisse um painel de 120 x 120 cm, com o tema “O meu valor, eu e o mundo”. A criação foi coletiva. Propus o tema, os participantes foram apresentando suas ideias e eu somente orientei no sentido de obter um resultado final que fosse executável, de possível reprodução com a técnica da colagem. A base para a produção dos painéis foi uma divisória de escritório reaproveitada. 


Processo criativo: Logo após o brainstorm com os participantes, na lousa, definimos como cada um dos grupos desenvolveria o seu projeto. 



Abaixo os painéis produzidos pelos dois grupos.   



 Painel produzido pelo grupo Futuro



Painel produzido pelo grupo Vencer 


                                                  Painéis expostos na entrada da clínica 


A participação dos pacientes foi surpreendente, sobretudo na produção dos painéis. Um grande número de participantes, a maioria, aceitou o desafio e não arredou pé do projeto até que os painéis estivessem prontos, por volta das 19h00. 

Quando notei que o mais difícil havia sido conquistado, a comunicação e o entrosamento com os participantes, a ponto destes terem aceitado o desafio incondicionalmente, achei que o ideal seria retornar após um mês e concluir o projeto com o mesmo grupo. A dedicação do grupo merecia um desfecho a altura. 

Retornei no mês de setembro para mais uma oficina. Alguns poucos participantes da oportunidade anterior já haviam deixado a clínica, mas a base do grupo ainda era a mesma. Na parte da manhã propus novamente que cada participante produzisse duas colagens em papel cartão 15 x 15 cm, mas desta vez com o mesmo tema dos painéis coletivos “O meu valor, eu e o mundo”. A ideia era que cada um tivesse a oportunidade, neste segundo momento, de uma reflexão individual a cerca do mesmo tema anteriormente proposto. Como os participantes já conheciam a técnica o tempo da oficina foi otimizado e eles puderam produzir dois trabalhos cada. 

Na parte da tarde, após o almoço, todos se reuniram novamente, mas somente aqueles que desejaram, puderam falar a respeito do trabalho produzido na parte da manhã. 

Alguns trabalhos produzidos nesta etapa, em setembro de 2012.





Como a iniciativa deste post é a de propor e dispor informações para que o projeto de oficinas de colagem com dependentes químicos possa vir a ser desenvolvido por outros profissionais pelo Brasil afora, deixo aqui algumas observações registradas durante as atividades visando o aprimoramento da atividade para este público específico.

Como sempre, aqui também para este público específico, o caráter lúdico falou mais alto. Sobretudo na oficina realizada em 2011, notei que o projeto pode ser importante, sobretudo, por quebrar a rotina e permitir que os participantes externem seus sentimentos sem que necessariamente percebam a atividade como parte do tratamento, ou como uma obrigação. A meu ver quanto maior for este caráter lúdico e mais afastada a atividade estiver do que já é proposto comumente na instituição, melhor poderá ser o aproveitamento. Entenda-se aqui melhor resultado pela maior liberdade dos participantes em externarem suas emoções. 
Seguindo este raciocínio, percebo que o tema livre é a melhor opção para os trabalhos individuais. Já para um trabalho de criação coletiva, a temática direcionada, traz, a meu ver, um melhor resultado. 
Percebo que, individualmente falando, quando propomos um tema que, mesmo indiretamente, traz à tona o processo de tratamento e o drama vivido, perde-se o caráter lúdico e consequentemente a liberdade de expressão. 
O desejo de retornar à clínica em 2012 para propor a atividade com o mesmo grupo, mas propondo o tema individualmente, veio da percepção e partiu do pressuposto que com a parte técnica artística dominada, o participante poderia ganhar maior liberdade e, assim, a criação poderia fluir melhor. Funcionou.
A meu ver as revistas semanais, com todos os problemas de nossa sociedade em suas páginas, são as ideais para as oficinas com este público. 
Para a composição da colagem, proponho que a textura de fundo seja rasgada e a figura central recortada. As tesouras utilizadas, contadas e conferidas antes e depois da atividade com acompanhamento de um profissional da clínica, são as da linha escolar da Mundial.

Agradeço à mencionada mãe e à sua amiga arteterapeuta pela maravilhosa oportunidade proporcionada a este artista plástico, ao Pastor Alessandro Rodrigues pela oportunidade e pela confiança e a todos os funcionários da clínica Sul Med pelo incondicional e primordial apoio.

Site Clínica SulMed

2 comentários: