sexta-feira, 27 de junho de 2014

Oficina de pintura para Secretaria de Assistência Social e Cidadania de Joanópolis - SP, por intermédio do CRAS, no Abrigo Municipal – Oficina de pintura para crianças – Minha inspiração – Apresentação da obra de Gustavo Rosa.



No dia 27 de junho de 2014 realizei mais uma oficina para Secretaria de Assistência Social e Cidadania de Joanópolis - SP, por intermédio do CRAS, voltada às crianças do Abrigo Municipal. Após realizar diversas atividades artísticas com finalidade socioeducativa, perguntei às crianças qual era a que mais lhe agradavam: a resposta foi oficina de pintura.

Sendo assim, além de prosseguir com as demais atividades, passei a realizar uma oficina de pintura com certa regularidade, sempre baseada na obra de um mestre da pintura. Na primeira oficina trabalhei com a obra de Tarsila do Amaral http://silvioalvarez.blogspot.com.br/2014/05/oficina-de-pintura-para-secretaria-de.html 

Na mais recente o artista escolhido foi Gustavo Rosa, igualmente baseado no caráter lúdico do trabalho do artista. Assim como fiz com Tarsila, deixo que as crianças pesquisem na internet, com meu acompanhamento, sobre a vida e obra, dando destaque aos quadros que mais chamarem a atenção delas. A ideia não é que as crianças produzam releituras, mas que produzam um quadro com inspiração na obra do artista apresentado. 






A obra de Gustavo Rosa mostrou-se perfeita para a atividade, pois aproxima a criança da arte de forma imediata e marcante e com ludicidade. A criança toma contato com a arte e quer mais e mais. O resultado positivo é bastante perceptível ao observarmos o trabalho final e, sobretudo, a empolgação das crianças na elaboração e produção dos quadros. 










Para desenvolver a atividade utilizo tinta látex branca com corantes variados, pincéis e tela de pintura 20 x 30 cm. 

Contato Silvio Alvarez
silvioalvarez@uol.com.br
www.silvioalvarez.com.br

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Oficina de colagem para os artistas da Cooperaacs a convite do Condomínio Conjunto Nacional – Arte e Reciclagem




À convite do Condomínio Conjunto Nacional da Avenida Paulista, São Paulo, no dia 25 de junho de 2014 realizei oficina de colagem para os artistas da Cooperaacs no galpão da Avenida Àlvaro Ramos, Belenzinho. 



Foram lindos momentos de confraternização entre artistas que trabalham com a mesma essência, unir arte e reaproveitamento de materiais.






Criada em 2004, a Cooperaacs está instalada no bairro do Belém, zona leste da capital paulista, em um galpão no qual são desenvolvidos e confeccionados os seus projetos.
  
No comando das atividades, está o mestre artesão Sandro Rodrigues, fundador e atual presidente da entidade. O trabalho mais conhecido da Cooperaacs ocupa o coração financeiro de São Paulo - a avenida Paulista. A cooperativa é responsável pela produção e execução da decoração de Natal do Condomínio Conjunto Nacional, projetado todos os anos pelo artista e cenógrafo Silvio Galvão.






Com quase 10 anos de trajetória, a Cooperaacs une cultura, sustentabilidade e inclusão social, ao transformar materiais recicláveis em arte por meio de talentos anônimos, muitos deles excluídos da sociedade.
  
A matéria-prima de seus trabalhos é extraída das garrafas PET, que ganham cores e formas singulares, e quando combinadas com outros elementos, como ferro e papel, se transformam em objetos únicos.




Agradeço a Vilma Peramezza, a toda a equipe do Conjunto Nacional e aos queridos parceiros artistas da Cooperaacs pela oportunidade, carinho e atenção! 

Trabalhos de colagem produzidos pelos artistas da Cooperaacs durante a oficina 
















segunda-feira, 23 de junho de 2014

Colagem: A Técnica das Possibilidades - Monografia de Simone Silva Santiago - Curso de Especialização em Ensino da Arte



UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DA ARTE

COLAGEM: A TÉCNICA DAS POSSIBILIDADES

POR

SIMONE SILVA SANTIAGO
ORIENTADORA
PROFESSORA Me. ELOISA DE SOUZA SABÓIA RIBEIRO

RIO DE JANEIRO
2012

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DA ARTE
COLAGEM: A TÉCNICA DAS POSSIBILIDADES

Monografia apresentada por Simone Silva Santiago à Pós-graduação em Ensino da Arte da Universidade Veiga de Almeida como um dos requisitos para a obtenção do título de especialista em Ensino da Arte.
Orientadora: Profª. Me. Eloisa de Souza Sabóia Ribeiro


Rio de Janeiro
2012

Agradecimentos

Para este trabalho tive auxílio de muitas pessoas. Imagino que não tenham consciência do quanto me ajudaram e que, sem elas, não teria concluído este projeto.

Agradeço a minha família, marido e filhos pelo apoio e compreensão por todo o tempo dedicado ao estudo e escrita deste trabalho. Em especial à meu marido e companheiro Paulo Santiago que me encorajou na busca pelo meu futuro profissional.

Agradeço também aos docentes do curso de Pós-graduação em Ensino da Arte, sempre dispostos a colaborar com os alunos. Com carinho um grande obrigado à Eloisa Sabóia, minha querida orientadora e Amandio Miguel, um grande mestre.

Por fim agradeço aos amigos conquistados neste curso, aos queridíssimos Fernanda Vianna e Guilherme Guimarães.

Muito obrigada Deus.

Resumo

O presente trabalho monográfico traz um estudo da colagem como forma de expressão artística no ensino da arte. Tem como objetivo possibilitar um olhar que dê o real valor a técnica utilizada por artistas desde o cubismo. A abordagem deste estudo foi exploratória, partindo da apresentação da colagem em um percurso histórico desde sua adoção como técnica de expressão, a presença da técnica na produção nacional e os artistas que dela fazem uso na contemporaneidade. Foi desenvolvido um projeto pedagógico em ensino da arte aplicado em duas instituições de ensino, uma particular e outra pública, onde os alunos elaboraram uma produção artística fazendo uso da colagem. Foi analisado o transcurso do projeto junto a cada grupo e os resultados atingidos por cada um, observando suas especificidades. Este estudo pretende também contribuir com futuros estudos sobre a colagem dada a escassa bibliografia específica para o assunto.

Palavras chave: colagem – ensino da arte – história da arte.

Sumário

INTRODUÇÃO 7
1. Colagem enquanto técnica artística 9
1.1 Um breve histórico 9
1.2 Matisse e as colagens: um caso à parte 24
1.3 Para organizar  as idéias.....................26
1.4  A Colagem no Brasil: alguns recortes 27
1.5 Um mosaico de contribuições.............33
2. Colagem no ensino da arte...................34
2.1  Um projeto pedagógico com a técnica de colagem 34
2.2  O Projeto Colagem: dando um novo significado às imagens 37
2.3 O processo de projeto no Colégio Estadual Jardim Meriti 41
2.4 O processo de projeto no Centro Educacional Espaço Integrado 46
2.5 Conclusão do projeto Pedagógico em Ensino da Arte..................50
3. Considerações Finais 49
Referências Bibliográficas 52
Anexo 1 55
Anexo 2 62
Anexo 3 .......................................................................................................................................64

INTRODUÇÃO

Pretendeu-se desenvolver com este trabalho um estudo sobre o uso da técnica de colagem no ensino da arte. Desde o primeiro contato com a técnica no curso de graduação em Design gráfico na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, na disciplina de Introdução Gráfica, a colagem é foco de interesse pessoal. Durante a graduação vários trabalhos foram desenvolvidos utilizando a colagem em disciplinas diversas, inclusive no Projeto de Conclusão de Curso.

Após anos de contato com a técnica de colagem, este assunto ainda suscita interesse e buscamos desenvolver um estudo quanto às origens da colagem, suas diferentes utilizações, influências na Arte Moderna e a multiplicidade de artistas que a utilizam, fazendo deste o tema de monografia de conclusão do curso de especialização em Ensino da Arte, na Universidade Veiga de Almeida.

O trabalho foi dividido em partes para que o estudo desenvolvido sobre a técnica de colagem e sua aplicação possa incentivar e fundamentar sua aplicação no trabalho com o educando em disciplina de arte.

Primeiro foi exposto um breve levantamento histórico a fim de registrar a importância da técnica de colagem a partir do desenvolvimento da arte moderna e como diversos movimentos artísticos a utilizaram, incluindo a colagem na arte contemporânea e na produção nacional. Em seguida, a ação e o resultado desta em projeto desenvolvido em turmas de nono ano do ensino fundamental e segundo ano do ensino médio em instituição pública estadual e primeiro ano do ensino médio de instituição particular, narrando a experiência de desenvolvê-lo e analisando os resultados conceituais e técnicos do trabalho com colagem, incluindo imagens do processo de trabalho e das soluções alcançadas pelos alunos. 

Portanto, este trabalho teve como objetivo apresentar e analisar a contribuição da técnica de colagem no ensino da arte, assim como identificar o potencial pedagógico de se desenvolver no educando ações como observar e perceber a si mesmo e o mundo que integra, sugerindo a elaboração de novas significações para imagens de contextos diversos. O ato de buscar um olhar diferenciado para as imagens observadas promove conhecimento individual e cultural e a colagem pode contribuir na formação do indivíduo observador, crítico e participativo.

“O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos.” 

“A aprendizagem artística envolve, portanto, um conjunto de diferentes tipos de conhecimentos, que visam à criação de significações, exercitando fundamentalmente a constante possibilidade de transformação do ser humano.”  

Assim, com papel, tesoura e cola os alunos desenvolvem trabalhos que externalizam sentimentos, construindo composições com imagens recortadas que recebem nova contextualização e nova significação a partir de sua cultura, individualidade e gosto próprio.

Como fundamentação teórica, foram utilizados autores da História da Arte como Giulio Carlo Angan, Janson & Janson, Alberto Tassinarie, Carol Strickland e autores relacionados aos estudos de ensino da arte como e Ana Mae Barbosa, Anamelia Bueno Bouro, Miram Celeste.

Esperamos com este estudo, contribuir para a utilização da técnica de colagem de maneira mais ampla e fundamentada no ensino da arte. Apresentando-a como possibilidade para o desenvolvimento do olhar investigativo do aluno em relação às imagens, promovendo a ampliação de seus conhecimentos em arte e fortalecendo as habilidades práticas dos atos de cortar e colar. E também contribuir como suporte bibliográfico, dada a falta de títulos que tratem especificamente do assunto colagem.

1. Colagem enquanto técnica artística

1.1 Um breve histórico

Elaborar trabalhos artísticos utilizando a mistura de materiais não é prerrogativa da arte popular. A colagem é uma técnica que faz grande uso dessa mistura e tem seu lugar na história da arte.

A operação de cortar e colar aplicada à arte teve seu valor reconhecido a partir do século XX, com sua utilização no movimento cubista  em sua fase sintética . Até então era considerada manifestação artística desprovida de crédito e fundamentação teórica.

Para compreender a importância da colagem na Arte Moderna  é necessário conhecer alguns aspectos do movimento que desencadeou seu uso e posteriormente, seu percurso na história da arte.

Cubismo

O Cubismo surgiu sob a influência da obra de Cézanne , geometrizada e organizada em um plano plástico que não mais representava a realidade e, também, da arte primitiva africana. Entretanto, os artistas que desenvolveram o movimento foram além dessas influências recusando a idéia de arte como imitação da natureza, afastando a perspectiva e a modelagem assim como qualquer tipo de efeito ilusório.

Em Les Demoseille d’Avignon (1907), obra de ruptura com os padrões da época, Pablo Picasso deixa claras as influências cézannianas e africanas. Segundo Janson & Janson (2009), As Senhoritas de Avignon nos expõe corpos que distorcem as figuras clássicas, traços e corpos expressivamente disformes como característica bárbara da arte primitiva. Picasso nega a beleza antiga e a imagem torna-se “um vidro quebrado” que possui seu próprio mundo análogo à natureza, mas construído segundo princípios diferentes. (JANSON, H. W.& JANSON, Antony. Iniciação à História da Arte. 3ª edição. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2009)     

Pablo Picasso, LesDemoseille d’Avignon (1907).

Pablo Picasso e George Braque aprofundaram suas pesquisas e passaram a representar os objetos em todas as suas partes num mesmo plano, sem qualquer fidelidade com a aparência real. Ofereciam ao espectador uma visão fragmentada num plano de duas dimensões. Segundo Argan (1992), o procedimento cubista ao excluir qualquer efeito ilusório, é realista, mas não no sentido de imitar o verdadeiro e sim no que dá origem a um objeto com qualidades próprias. Os objetos utilizados por Braque e Picasso são de formas bem conhecidas (pratos, copos, frutas), mas o entendimento em suas obras se fazia pela experiência e quanto menos identificáveis estes objetos fossem, mais eficaz seria a consideração da forma (p.304/305).

As Fases do Cubismo

Cubismo analítico e sintético são as duas fases mais importantes do movimento.  A primeira, o cubismo analítico, caracterizado pela desestruturação e decomposição dos objetos que eram representados de forma fracionada proporcionando a visualização de todos os ângulos ao mesmo tempo, em planos sucessivos e superpostos. A partição dos objetos representados foi tão grande que estes se tornaram irreconhecíveis nas pinturas. As obras tendiam à monocromia para que as formas não sofressem com a interferência das cores. Beges, tons terrosos, verdes e cinzas predominavam. Os temas, em sua maioria, eram naturezas mortas.


George Braque, Violino e cântaro (1910).

A segunda fase, denominada sintética, apresenta uma reação ao excesso de desmembramento do momento anterior. Foi nessa fase que ocorreu o surgimento da colagem como técnica artística. George Braque em 1912 introduziu madeira, pedaço de papel, vidro, metal, tecidos e toda sorte de materiais que permitissem a criação de efeitos plásticos e que ultrapassassem os limites das sensações visuais, como na pintura, proporcionando ao observador sensações táteis.

Os objetos do mundo cotidiano aparecem na tela como eles próprios em lugar de representações. Os fragmentos na obra de arte, segundo Janson & Janson (2009), tem a função de representar (serem parte de uma imagem) e apresentar (serem eles próprios). 

O espaço do quadro, enquanto espaço real é capaz de acolher elementos retirados diretamente da realidade; uma das inovações técnicas mais sensacionais é, de fato, a aplicação de pedaços de papel, tecido etc (collage). É uma maneira drástica de destruir o preconceito de que a superfície do quadro era um plano para além, do qual se distinguia a invenção de um acontecimento: a pintura, a partir de agora, é uma construção cromática sobre o suporte da superfície. (ARGAN, 1992, p. 305).


George Braque. Le Courrier (1913).

(...) Le Courrier de Braque, de 1913. É composto quase que inteiramente de fragmentos de materiais cortados e colados, tendo somente algumas linhas a mais para completar o desenho; reconhecemos tiras de madeira granulada, parte do envoltório de um charuto, um pedaço de papel-jornal transformado em baralho (o ás de copas). (JANSON & JANSON, 2009, p. 367)

A colagem no Cubismo abriu as portas a um novo conceito de espaço que é criado pela interseção de materiais colados. Criou-se aí um novo marco na história da pintura.
A utilização da técnica de colagem iniciada por George Braque e Pablo Picasso foi adotada por outros artistas em suas obras, como Juan Gris, Albert Gleizes, Robert Delaunay.
Para os cubistas, a colagem servia para demonstrar que não existe separação entre o espaço real e o espaço da arte, de modo que as coisas da realidade podem passar para a pintura sem alterar sua substância. (Argan, 1992. P. 359).

                     Juan Gris. Le Bodegon com persiana (1914).

Logo os artistas perceberam que poderiam utilizar-se de pintura e ainda assim manter um plano pictórico que se assemelhava a colagem. Passaram então a pintar como se estivessem fazendo colagens. O quadro Três Músicos de Picasso é um exemplo desta “pintura colagem”. As áreas de cor são delimitadas como se recortadas e coladas na tela que, segundo Janson (p. 396), Picasso apresenta esse “estilo de papel cortado” tão consistente que não conseguimos descobrir a partir da reprodução se é uma pintura ou uma cola



                                               Pablo Picasso.Três Músicos, óleo (1921).

A partir da Arte Moderna, a técnica de colagem passa a ser empregada por diversos artistas e movimentos artísticos que prosseguiram as inovações do cubismo, promovendo sentidos variados.

Dadaísmo

Com uma temática aparentemente sem sentido, o movimento Dadá tinha o propósito determinado de protestar psicológica e moralmente contra a loucura da Primeira Guerra Mundial.  O movimento expandiu-se de Zurique para o mundo e embora designado niilista  suas estratégias eram a denúncia e o escândalo. Colocou em desordem os valores da sociedade e da própria arte, e esta rejeita a lógica fazendo-se algumas vezes por meio do acaso.

Conforme Argan, a estética dadaísta não é mais um processo técnico e sim documenta um processo mental que se vale de qualquer instrumento e retira seus materiais seja de onde for (1992, p. 353). Aí cabe a colagem como técnica que atende a esse ímpeto antitécnico e antiformal dos dadaístas. Uma das características Dadá foi romper as barreiras dos gêneros literários e artísticos.

Diferente de outras correntes que, seja como for, nascem da vontade de conhecer, interpretar a realidade e dela participar, o movimento Dadá é uma contestação absoluta de todos os valores, a começar pela arte. (ARGAN, 1992, p. 353).

Em abril de 1918 foi impresso o primeiro manifesto dadaísta: "A arte depende, em sua execução e direção, do tempo em que se vive, e os artistas são os criadores da sua época. Os melhores artistas, os mais inauditos serão aqueles que, a todo o momento, retomarão as beiradas dos seus corpos no fragor das cataratas da vida e, perseguindo a inteligência do tempo, sangrarão das mãos e do coração. (...) "Os signatários deste manifesto se reuniram sob o grito de combate DADÁ! Para a difusão de uma arte que realiza as novas idéias...

Segundo Carol Strickland, não era de se admirar que os dadaístas acreditassem que não poderiam mais confiar na razão e na ordem estabelecida. Usando a subversão de toda a autoridade, cultivando o absurdo, pregavam a antiarte. Entretanto, os integrantes do movimento dadá tinham um objetivo mais sério do que causar espalhafato e incômodo: buscavam “acordar a imaginação” (2004, p.148).

Às artes visuais foi dado espaço dentro do movimento desde que os trabalhos fossem radicalmente antiestéticos e anti-históricos, ausentes dos modelos da história da arte.

A colagem foi adotada pelo movimento dada para satirizar e negar os valores relacionados à academia e à ordem social vigente. A técnica foi, então, experimentada por vários artistas que encontraram soluções diversas para seus trabalhos.

Hans Arp em suas obras dadaístas aplicava o princípio do acaso, anarquizando com o mito do gênio artístico individual. Em suas colagens há uma estrutura aleatória e pode-se destacar a coleção de colagens intitulada “Disposição segundo as Leis do Acaso”.


                              Hans Arp Colagem Dispostas Segundo a Lei do Acaso (1916/1917).

Outra forma de colagem dadaísta é a que se apropria de figuras de revistas, fotografias, gravuras etc. Esta apropriação utilizada por Raoul Hausmann, Hannah Höch e Max Ernest fornece à imagem uma nova contextualização, tomando esta, por vezes, novo sentido ou significado.

Hausmann não desejava ser visto como artista assim como os dadaístas de Berlim e nomeava seus trabalhos de fotomontagens para destituí-las de qualquer caráter artístico. Utilizava textos impressos e imagens fotográficas.

          Raoul Hausmann,Colagem ABCD.(1923/1924).

(...) Aqui ele não concebeu um espaço uniforme em perspectiva onde as representações das suas figuras se iriam inserir. Em vez disso, ele representa a obra como uma colagem de diferentes fragmentos da realidade, diferentes planos pictóricos e perspectivas. (Dietmar Elger, Taschen, 2010, p. 40).


Hannah Höch, única mulher no movimento dadá, utilizava a colagem com humor e ironia para criticar a imagem frívola e inconsistente dada à mulher. Exibia a histórica relação de poder entre homens e mulheres que deveria ser negada como também a modernidade do mundo mecanizado. Em suas composições as imagens eram arranjadas no plano da obra com certa ordem e não como se as adicionasse uma após a outra.


     Hannah Höch, Colagem Beautiful Girl (1920)

Outro representante do movimento dadá foi Max Ernst, que fundou a ramificação de Colônia . Combinava várias técnicas artísticas e materiais coloridos em sua engenhosa criatividade. Desenvolveu a técnica de frotagem, que consistia em transferir para uma folha de papel a textura de uma superfície ou objeto.

Ernst definiu: “a técnica da colagem é a exploração sistemática do acaso ou da confrontação artificialmente provocada de duas ou mais realidades mutuamente opostas num nível obviamente inapropriado – é a faísca poética que salta quando estas realidades se aproximam uma da outra” (Dietmar Elger, Taschem, 2010, p. 24).

Sua obra é dadaísta até sua mudança para a cidade de Paris, quando passa a integrar o movimento surrealista, após conhecer André Breton. Suas colagens o aproximam do universo onírico do novo movimento.

Por meio de Max Ernst a temática sem sentido e desordenada do dadaísmo deu lugar às representações do inconsciente e subconsciente humano.

   
              Max Ernst, Chegando à Puberdade, colagem (1921)

Surrealismo

Influenciado pelo movimento dadaísta e pela teoria da psicanálise desenvolvida por Freud, o Surrealismo trabalha com o inconsciente e subconsciente. Como afirma Carol Strickland, o surrealismo que implica em ir além do realismo, buscava deliberadamente o bizarro e o irracional para expressar verdades ocultas, inalcançáveis por meio da lógica. (2004, p.149).

“O inconsciente não é apenas uma dimensão psíquica explorada com maior facilidade pela arte, devido sua familiaridade com a imagem, mas é a dimensão da existência estética e, portanto, a própria dimensão da arte. Se a consciência é a região do distinto, o inconsciente é a região do indistinto: onde o ser humano não objetiva a realidade, mas constitui uma unidade com ela.” (ARGAN, 1992, p. 360)

Max Ernst foi o grande expoente da colagem no movimento surrealista e em suas experimentações com a técnica se relacionou com a imagem, desde a escolha até o novo contexto que esta recebe no ato de colar. A esse procedimento Ernst deu o nome de collage. Disse Ernst “Se a pluma faz a plumagem, a cola não faz a collage”.

         
      Max Ernst,O Carteiro Cheval, colagem (1932).

O princípio da collage foi levado para pintura assim, Ernst e outros artistas surrealistas pintavam juntando uma variedade de elementos estranhos uns aos outros, contraditórios ou incoerentes que resultavam em uma pintura com aspecto de colagem, assim como já haviam feito os cubistas.

René Magritte e Salvador Dali utilizaram este modo de representação em suas pinturas, desenvolvendo mais tarde suas características particulares.

Magritte trabalhou com a técnica de colagem em algumas de suas obras. Tecnicamente a colagem era ponto de partida para a pintura.

       
Réne Magritte, Collage, colagem (1966)

Salvador Dali também fez incursões na prática da colagem representando seu universo onírico e seus delírios.
     

     Salvador Dal , Prazeres Iluminados, óleo e colagem (1929)

As vanguardas Russas

Segundo Argan, a partir de 1915 o Suprematismo de Malevich e o Construtivismo de Tatlin são as duas grandes correntes da arte avançada russa; ambas se inserem no vasto movimento da vanguarda ideológica e revolucionária. A arte deve estar a serviço da revolução, fabricar coisas para a vida do povo, como antes fabricava para o luxo dos ricos. A arte, que não pode mais ser representativa, pois não há mais valores institucionalizados para representar, será informativa, visualizará instante por instante a história em ação, estabelecerá um circuito de comunicação intencional entre os membros da comunidade. (2008, p. 325 a 329)

   
       Kazimir Malevich.Composição com Monalisa. 1914, óleo, colagem e grafite sobre tela.

Rodchenko construiu uma reputação de pioneiro no campo de combinação de arte e fotografia, fazendo uma série de colagens e montagens juntando suas próprias imagens com recortes de revistas.


          Alexander RODCHENKO, 1923, colagem, fotografia e guache.

Provavelmente, a maior contribuição para o design gráfico do século XX foi dada pelas vanguardas russas. Os “artistas gráficos” buscavam uma linguagem estética que servia de forma eficaz a um público com pouca instrução; as massas operárias e camponesas.

Pop Art

Argan afirma que não se pode qualificar a Pop Art como movimento ou tendência e sim como um fenômeno que expôs uma realidade social desalentadora, o desconforto da sociedade de consumo.

“Ao contrário do Dadaísmo, a Pop Art não é motivada pelo desespero ou animosidade contra a civilização atual; considera a cultura comercial sua matéria-prima, uma fonte inesgotável de material pictórico mais do que um mal a ser combatido.” (JANSON & JANSON, 2009, p. 395)

Alterando a localização geográfica, de Europa para Estados Unidos da América, vemos a Pop Art prosperar assentada imageticamente na mídia norte-americana, recolhendo seus temas da cultura popular.

Richard Hamilton, considerado um dos pais da Pop Art tem sua obra mais emblemática, desenvolvida com a técnica de colagem fazendo uso de imagens do cotidiano e por intermédio delas provoca considerações sobre a sociedade. Suas produções tinham como primazia o diálogo da arte com o objeto.


Richard Hamilton, Just what is it that makes today's homes so different, so appealing?, 
colagem (1956).

Nessa obra, o artista descreve um cenário de imagens massificadas pela mídia, saídas de propagandas de revista. Hamilton expressa sua crítica à sociedade de cultura de massa

Tal como Hamilton, Robert Rauschenberg demonstra em suas obras a superficialidade da sociedade de consumo. Utiliza a colagem fundindo elementos da cultura de massa e episódios da história americana moderna.


   Robert Rauschenberg, Série Signs, colagem (1970)


1.2 Matisse e as colagens: um caso à parte

Matisse dedicou-se, em seus últimos anos, a colagem. Recortava formas imaginárias em papéis de coloridos vibrantes, que possuíam grande energia e produziam agitação visual. As colagens são o ápice de um percurso de simplificação da imagem, a síntese de todas as suas experiências.

O trabalho do artista destoa da época onde impera o absurdo e a inquietação, apresentando sempre a “alegria de pintar a beleza”. Os recortes de guaches são o resultado de uma vida de trabalho com a exaltação da cor.

O álbum Jazz publicado em 1947 nasceu com a colaboração de simples tesouras, quando, literalmente, cortando as cores em papéis coloridos, Matisse resolve os problemas de forma e espaço, do contorno e da cor que sempre tentou conciliar.

Matisse, um dos artistas que desencadeou o fovismo, não pode agora ser enquadrado em movimento algum, pois o processo que desenvolveu é completamente novo, nunca fora utilizado. As colagens do artista não podem ser comparadas a dos cubistas, que construídas a partir de materiais diversos, são uma exibição de geometria. Ou ainda com as colagens de Arp e as fotocolagens dos dadaístas, apinhadas de espalhafato, denúncia e escândalo.

(...) “Desenhar com a tesoura, recortar as cores vivas, lembra-me o trabalho direto dos escultores… uma tesoura é um instrumento maravilhoso e o papel que uso para os meus recortes é magnífico… trabalhar com a tesoura neste papel é uma ocupação na qual me posso perder… o meu prazer pelo recorte aumenta a cada dia que passa! Por que é que não pensei nisto antes? Cada vez me convenço mais de que com um simples recorte se pode expressar as mesmas coisas do que com o desenho e a pintura…”. Henri Matisse em “Escritos e Pensamentos sobre a Arte”
                                    
                                                        
     
       Henri Matisse ,Tristeza do Rei, colagem, 1952.

A Tristeza do Rei é o resultado do último grande esforço pictórico de Matisse, executado através do corte e da colagem de guaches. Esta é a última saudação do artista – representado pelo rei vestido de negro, com a viola na mão – ao mundo que o rodeia, aos temas que lhe são queridos (Matisse, Recortes. p. 16, 2002).
A obra de Matisse nasce do confronto das cores, como ele mesmo afirmava.
     
           




1.3  Para organizar as idéias

A colagem como técnica artística revolucionou a representação pictórica e libertou o artista da tirania da superfície, abrigando no quadro elementos retirados da realidade e imagens impressas.

Com a colagem o trabalho artístico passa a ser gerado quebrando os paradigmas da pintura. Os princípios de composição inaugurados pelas colagens encontraram seguidores com interpretações diferenciadas para o mesmo procedimento e os experimentos gráficos que ocorreram a partir do cubismo deixaram sua marca nas artes visuais. 

No início do século XX a arte tornou-se o produto das mudanças que ocorreram durante o final do século XIX. As idéias de progresso e de modernidade substituíram o culto da natureza e o encantamento pela paisagem.

A pintura, cada vez mais, se afastou da representação naturalista e a contribuição da colagem foi a diversificação dos procedimentos usuais das escolas de arte. Com os movimentos que se seguiram ou cubismo a técnica adquiriu maturidade e a articulação dos elementos em composições de colagem produziu resultados que principiaram novas fronteiras para as artes visuais.

A nova arquitetura visual trazida pela colagem percorre a arte moderna e finca os pés firmemente na arte contemporânea. Artistas de diversas nacionalidades fizeram e fazem uso da colagem, ganhando grande notoriedade e difundindo a técnica que já alcançou lugar seguro na arte.

A colagem também tem seu espaço na arte brasileira e grandes nomes da produção nacional a utilizam ampliando a visibilidade desta forma de representação em nosso território.

1.4  A Colagem no Brasil: alguns recortes

Devido à presença escassa de bibliografia específica que apresente a técnica de colagem no Brasil e os artistas que a elegeram como forma de expressão, buscamos, com esse estudo, contribuir com a história desta técnica na produção nacional. Apresentamos alguns artistas em diferentes épocas da arte brasileira e as diferentes significações que alcançaram em seus trabalhos por meio da técnica de colagem e como cada uma contribuiu para a diversidade estética da arte nacional.

A técnica de colagem esteve presente nas manifestações artísticas de vanguarda no Brasil e foi testada por diferentes artistas. Alguns exemplos são as obras de Teresa D’Amico, Guignard, Jorge de Lima, Carlos Scliar, Tide Hellmeister, Beatriz Milhazes, Silvio Alvarez e Marcelo Silveira.

A artista Tereza D'Amico descobriu a essência da cultura brasileira fazendo colagens abundantes de alegorias e mitos, elas se referem às folias e fantasias carnavalescas. Compostas por plumas, miçangas, sementes, suas colagens são mosaicos, acumulações, justaposições. É evidente sua colaboração para a arte brasileira, retratando e mergulhando profundamente nas raízes e fontes populares.


      Tereza D’Amico Iemanjá, colagem sobre papel.

No período compreendido entre os anos 1960-65, as colagens de Tereza apresentam a influência da arte plumária indígena; elementos da cultura afro-brasileira (impregnada pela religiosidade provinda dos candomblés); cartografia popular; enfim, todas as manifestações, alegorias e mitos do povo brasileiro.

O artista plástico Guignard, curiosamente, revisita o surrealismo em 1949. Faz “colagens” – ou “montagens” fotográficas mais propriamente – de temas recorrentes no surrealismo: universos, olhos, encontros paradoxais, espacialidade onírica, atmosfera. 


           Guignard, colagem sobre papel, sem título ou data.

Na colagem apresentada, destacando-se três guerreiros em cenário composto por fragmentos de uma construção medieval. O metalizado das armaduras dos personagens, em diferentes tonalidades de cinza e branco, contrastam com a cor sépia do suporte, conferindo aspecto surrealista ao trabalho.

Carlos Scliar foi o precursor em experimentar a técnica da colagem usando recortes de antigas gravuras, enciclopédias, livros de anatomia e astronomia, além de jornais e revistas da época. Sob uma aparente incoerência revela-se uma pesquisa de linguagem inovadora e o resultado final da colagem, refotografada, lembra às vezes obras surrealistas, provocando uma tensão na percepção de quem vê, intercalando entre o absurdo e o verossímil.
                            

                Carlos Scliar, Garrafa de opalina – 1982.                 



Carlos Scliar, Composição com nêsperas.

Para o historiador da arte Tadeu Chiarelli, as fotomontagens de Jorge de Lima são muito próximas às de Ernst: compõem-se de cenas insólitas que ocorrem em espaços contínuos. Sob uma aparente incoerência revela-se uma pesquisa de linguagem inovadora e o resultado final da colagem lembra a óptica surrealista.


                                      Imagem do Arquivo IEB-USP – Fundo Mário de Andrade.

Ele apresenta em suas colagens, seres fantásticos, híbridos e misteriosos. Em algumas obras, o artista gera uma atmosfera opressiva, em imagens como as de pássaros voando em lugares fechados. Em 1943 o artista publica o livro A Pintura em Pânico, que reúne várias de suas colagens.

Tide Hellmeister é considerado um grande mestre da colagem brasileira. Para ele esta prática está relacionada a outros aspectos das artes plásticas, como o desenho, a pintura e a caligrafia. Diversas técnicas caminham em conjunto na forma de expressar uma visão crítica do mundo, irônica e onírica tanto ao tratar da figura humana como nas mais variadas e criativas composições.

O artista é um dos responsáveis pela técnica ganhar no Brasil o status de um recurso plástico dos mais complexos e ricos em suas múltiplas decisões seja no ato de escolher o que seria colado, seja no ato de selecionar onde isso aconteceria.


         
                 Colagem Tide Hellmeister - 2006            


Colagem Tide Hellmeister - 2006

A “colecionadora de imagens” Beatriz Milhazes, como ela mesma se intitula, trabalha com tinta acrílica sobre tela e colagens. As colagens são feitas com a sobreposição de cores que incluem desde papéis de bala, doces e chocolates a sacolas de compras. A harmonia dos excessos, de cores e intervenções, resulta em um trabalho cujo impacto pictórico espelha a sua pintura.

"Tanto na pintura como na colagem, é o processo que vai decidir o resultado do trabalho", diz a artista. 


                                                      Sonho de Valsa – Colagem, 2004.    
                                                                               


Batucada – Colagem, 2008.

Folheando centenas de revistas para encontrar as cores e texturas a fim de construir seus trabalhos, Silvio Alvarez iniciou com a colagem em 1989. Ele afirma que seu principal material de trabalho é a paciência e não o papel. Recorta, uma a uma, imagens de revistas ou folhetos publicitários para criar um mundo todo seu, mágico e surreal. 

Silvio trabalha temas que se relacionam com homem e o meio ambiente, as cidades e especialmente da relação do homem com ele próprio. A inspiração o leva a pesquisar revistas em busca das imagens para suas colagens as quais recorta em minúcias de cada detalhe. Posteriormente cola cada imagem recortada formando um mosaico de formas e cores que surpreende pela perfeição no acabamento.

Com bom humor o artista alia arte, conscientização ambiental e uma estética inovadora nas artes visuais.


           
              Morro dos morangos -  Colagem, 2008.     

                           

 A Criação – Colagem, 2010

Marcelo Silveira, participante da 29ª Bienal de Arte de São Paulo, voltou-se para o plano bidimensional por meio da colagem após dedicar anos a esculturas e instalações. O artista trabalha rasgando imagens de páginas de revistas em preto e branco e os recombina deixando aparente brancos irregulares. Os fragmentos não revelam de onde foram retirados formando lugares enigmáticos, sem identidade, formados por pedaços de paisagens naturais e texturas diversas.

Acumulando e sobrepondo as imagens o artista desenvolve um procedimento criativo privilegiado que questiona e desfia o espectador.
       


1.5  Um mosaico de contribuições

A inovação técnica e estilística proporcionada pela colagem, a partir da Arte Moderna, trouxe para a arte brasileira uma nova possibilidade de visualidade. Vários artistas adotaram ou adotam a técnica como expressão de suas idéias.

Tereza D’Amico, artista que não recebe o devido reconhecimento da história da arte brasileira, foi precursora da colagem através de acumulações de objetos do mundo real e utilizava a técnica para expor seu interesse pela cultura brasileira. 

Vemos os artistas Guignard e Tadeu Chiarelli que utilizam em suas produções colagens baseadas na fotomontagem, lembrando, por vezes, a linguagem dadaísta de um sutil nonsense  .

Tide Hellmeister, que também apresenta uma produção aproximada da fotomontagem, inovou adicionado às composições letras em caligrafia primorosa. Criava imagens com um espírito contemporâneo, multifacetado e harmônico de significado muito forte.

Já a técnica de representação de Beatriz Milhazes constrói superfícies pulsantes, com um colorido intenso, fazendo uso de colagem com aplicação sobre a tela. Suas combinações são caracterizadas por fortes contrastes, resultando em uma experiência visual que possui ritmo musical, incluindo referências de formas naturais, da arte popular, do carnaval e de elementos do barroco brasileiro.

Slivio Alvarez, que constrói um mundo surrealista com suas colagens cuidadosamente elaboradas, propõe uma busca ao interior humano com produções repletas de significados. É um artista que percorre o país divulgando a técnica de colagem em oficinas que congregam públicos variados, tornando possível a aproximação do cidadão com a arte.

Por fim a arte moderna e contemporânea brasileira acolheu a colagem, rompendo com as amarras da representação em pintura e tornando democrática uma forma de representação de grandes possibilidades, antes desprovida de importância e relegada ao corriqueiro.

2. Colagem no ensino da arte

2.1  Um projeto pedagógico com a técnica de colagem

Por acreditar que a colagem é uma linguagem que possibilita o fazer artístico relacionado com o cotidiano dos alunos e que lhes permite desenvolver produções que contribuam com sua formação cultural, foi proposto em turmas de nono ano do ensino fundamental e segundo ano do ensino médio do Colégio Estadual Jardim Meriti  e no primeiro ano do ensino médio do Centro Educacional Espaço Integrado , um projeto pedagógico em Artes Visuais o qual o resultado seria uma produção artística elaborada por meio da operação de recortar e colar.

Em O Olhar em Construção, Bouro esclarece que os trabalhos desenvolvidos por meio da leitura visual, das reflexões que envolvem o fazer artístico e das atividades que ensinam a ver, cria no aluno uma consciência mais crítica da sociedade em que vive, podendo assim, quando adulto, agir mais conscientemente na sua transformação (2001, p. 17).

Segundo Ana Mae Barbosa, em Imagem no Ensino da Arte, o bom desempenho em diversas profissões depende do conhecimento de arte que o indivíduo tem e só um fazer artístico consciente e informado torna possível a aprendizagem em arte. A capacidade de entendimento das produções artísticas pelo conhecedor, fruidor, decodificador contribui para o desenvolvimento cultural da sociedade (p.32 e 33, 2009).

O projeto em questão deveria atender a alguns aspectos para que representasse real contribuição ao crescimento artístico dos alunos.

Partiu-se da apresentação da colagem na História da Arte desde a modernidade até a contemporaneidade e as mudanças que sua adoção representou para o espaço plástico  das produções artísticas. Em seguida os alunos foram contextualizados no ambiente contemporâneo e observaram as produções de alguns artistas que utilizam a colagem em âmbito nacional e internacional. Para finalizar o projeto os alunos foram levados a expressar-se utilizando a técnica de colagem, escolhendo imagens, cortando, colando, criando um trabalho artístico.

Deu-se especial atenção ao esclarecimento de como arranjar a composição. Foi ressaltado que este processo era de grande importância, pois aí o aluno daria um novo entendimento às imagens que escolheu trabalhar e assim possivelmente novas significações, adaptando cada uma ao tema que elegeu em sua produção. O diálogo entre as imagens deve apresentar ao observador do trabalho a mensagem desejada pelo autor, algo bem diferente de pura e simplesmente “colar figuras”.

Conforme Bouro, a percepção das imagens nos conecta com o exterior e se dá na relação direta de um ser pensante com o mundo. Percebemos este mundo pelos órgãos dos sentidos com certo privilégio para a visão e perceber já é interpretar, conhecer, criar. (O olhar em construção, 2001, p. 134 e 135)

O ser humano é por natureza um ser criativo. No ato de perceber, ele tenta interpretar e, nesse interpretar, já começa a criar. Não existe um momento de compreensão que não seja ao mesmo tempo criação. Isto se traduz na linguagem artística de uma maneira extraordinariamente simples, embora os conteúdos sejam complexos (Faiga Ostrower, A construção do olhar, 1989, p.167).

Apoderar-se das imagens encontradas em revistas e dar-lhes novo contexto e significado é o grande desafio da proposta e utilizando seu repertório imagético o aluno tem a possibilidade de recombinar imagens e criar novas mensagens visuais. 

Por trás de cada imagem escolhida há sensações, percepções e lembranças que formam um conjunto de conceitos e valores que o aluno possui e que poderá aplicar ao seu trabalho, tecendo significados por vezes diversos da idéia proposta pela imagem no contexto a que pertencia.

Conhecer as artes visuais é saber produzir e refletir estética e artisticamente sobre as imagens visuais, o que implica num desenvolvimento cognitivo, perceptível e sensível com as formas dessas imagens (Fuzari e Ferraz, Arte na Educação Escolar, 2001, p.81).

Além de esclarecer as questões relatadas acerca da técnica de colagem o projeto apresentou, em segundo plano, o objetivo de esclarecer sobre os conceitos de imagens figurativas, simbólicas e abstratas, fundamentais para a realização do produto final do projeto: uma composição em colagem sobre um tema proposto.

2.2 O Projeto Colagem: dando um novo significados às imagens

Justificativa

A técnica de colagem rompeu com os ditames da pintura no século vinte e tornou-se um novo paradigma de vanguardas artísticas como o Cubismo.

Poderíamos defini-la como uma técnica plástica que utiliza materiais heterogêneos que, juntos ou sobrepostos, se colam a um suporte. Mas a colagem é mais do que isto…

Considerada um processo de possibilidades ilimitadas e de profunda expressividade, propõe ao seu utilizador a faculdade de modificar os significados das imagens quando as retira de um contexto transferindo a outro e aí promovendo uma mensagem visual diversa da primeira.

Objetivos

1) Entrar em contato com diferentes produções artísticas feitas com a utilização da técnica de colagem em movimentos da história da arte e na contemporaneidade.
2) Conhecer artistas que fizeram e fazem uso dessa estética.
3) Desenvolver capacidade de dar novos significados às imagens, conceitos e idéias.
Ex.: conceito – pobreza / imagem representativa – foto de favela / imagem simbólica – prato vazio / imagem abstrata – textura marrom
4) Desenvolver o uso da técnica com a elaboração de composição de colagens em trabalho prático atento a todos os procedimentos técnicos.

Comentários

Será estratégia para a elaboração do trabalho prático a utilização de imagens figurativas, simbólicas e abstratas em número mínimo de uma de cada na composição da colagem apresentando visualmente um conceito.

Duração Prevista

Quatro (04) aulas de 50 minutos.

Primeira Aula

Apresentar seleção de slides em Power Point contendo imagens de artistas que trabalharam a técnica de colagem ao longo da história da arte.
Explicar sobre as três categorias de imagens que deverão ser usadas no trabalho prático e exercício visual para análise, leitura e interpretação das mesmas.
Para finalizar, pedir como atividade para casa que os alunos tragam na próxima aula algumas revistas e todo material (tesoura, cola, revistas, papéis coloridos, de presente, tecidos, etc.) que possa servir para a execução do trabalho prático.

Segunda Aula

Apresentar seleção de slides em Power Point contendo imagens que demonstre o critério de composição para que os alunos compreendam que as imagens escolhidas devem formar um conjunto, que devem dialogar e “falar” do conceito apresentado de forma uníssona.
Apresentar lista (anexa) de conceitos para que o aluno eleja um que será o tema de sua produção.
Solicitar que os alunos pesquisem imagens que traduzam imageticamente o conceito escolhido.

Terceira Aula

Solicitar dos alunos a composição da colagem utilizando as três imagens explicadas nas aulas anteriores.
Explicar sobre o ato cortar, de colar e a integração das imagens num todo significativo.
Mostrar passo a passo o procedimento técnico da colagem das imagens para uma boa finalização, ou seja, um trabalho sem amassados, rugas ou bolhas.

Quarta Aula

Os alunos deverão apresentar os resultados da tarefa proposta, solicitando aos colegas a identificação do conceito escolhido e representado em suas produções, discutindo os diversos aspectos de cada trabalho.

Estratégias

1) Além da apresentação do Power Point, levar para os alunos imagens impressas de obras realizadas com a técnica de colagem para que percebam materialmente a composição de cada uma.
2) Acessar a internet e apresentar sites de artistas plásticos colagistas.

Exemplos:
Anderson Thives http://www.andersonthives.com/
Ann Marshall  http://www.annmarshallart.com/
Derek Gores  http://www.derekgores.com/
Silvio Alvarez  http://www.silvioalvarez.com.br/site/home

3) Discutir sobre o possível processo de trabalho de cada artista apresentado.

Avaliação

1) Participação em discussões na dinâmica das aulas expositivas.
2) Elaboração de trabalho individual – qualidade de comunicação das imagens, qualidade da composição, acabamento nos cortes e na colagem da imagens, integração das imagens.
3) A interação com os colegas durante a apresentação dos trabalhos em sala.

Recursos necessários
Datashow para exposição de slides em Power Point, cola, tesoura, papéis coloridos, revistas, etc..

Sugestão

No Rio de Janeiro, visitar a galeria do artista plástico Anderson Thives.
ANDERSON THIVES STUDIO AND ART, SHOPPING CASSINO ATLÂNTICO - AV. ATLÂNTICA 4240 - LOJA 223 - COPACABANA / RIO DE JANEIRO / BRASIL
55 21 3591-6165/ 55 21 2287 0222  /  55 21 9705 6165

Lista de conceitos para composição da colagem

Segurança / solidão / agilidade / felicidade / desperdício / tédio / juventude / beleza / terror / paciência / solidariedade / organização / infância / simplicidade / bondade / inocência / humildade / amor/ sabedoria / ignorância / razão / loucura / fé / restrição / dor / lentidão / sinceridade / riqueza / trapaça / união / rapidez

2.3 O processo de projeto no Colégio Estadual Jardim Meriti

Seguindo o roteiro elaborado para o desenvolvimento do projeto, a primeira ação foi apresentar aos alunos uma seleção de slides (anexo 1) com diversas imagens de artistas que utilizaram colagem em suas produções para que houvesse uma aproximação dos vários aspectos que envolvem o desenvolvimento de uma tarefa dessa natureza. 

Era de grande importância que o alunado compreendesse o processo de elaboração das composições apresentadas porque teriam que obrigatoriamente executar sua própria composição.

Em sua porção teórica, o projeto buscava embasar os alunos com conceitos da história da arte relacionados aos vários movimentos artísticos em que encontramos a colagem como técnica de expressão artística. A partir da análise das diversas produções expostas, foi concluído, em grupo, que se tratava de trabalhos com profunda reflexão e não uma operação automática de cortar e colar imagens. 

Vale lembrar que, além da absorção de conceitos da história da arte o trabalho também possuía o propósito de sedimentar os conceitos de imagens figurativas, simbólicas e abstratas.

Dando início ao processo de trabalho foram considerados os procedimentos técnicos para as produções, atentando aos cuidados com o corte, a organização da composição e a colagem das imagens.

Após as explanações teóricas os alunos elegeram seus temas de composição e passaram à pesquisa de imagens em revistas solicitadas na aula anterior. Deveriam procurar as imagens pensando como estas traduziriam a significação que desejavam em seus trabalhos. Um exercício de ver atento às particularidades de cada imagem.

Ver significa essencialmente conhecer, perceber pela visão, alcançar com a vista os seres, as coisas e as formas do mundo ao redor. A visualização ocorre em dois níveis principais. Um deles se refere ao ser que está vendo, com suas vivências, suas experiências. O outro é o que a ambiência lhe proporciona. Mas ver não é só isso. Ver é também um exercício de construção perceptiva onde os elementos selecionados e o percurso visual podem ser educados. (FUZARI e FERRAZ, Arte na Educação Escolar,  2001, p.78)


      Alunos da turma 903 do Colégio Estadual Jardim Meriti em pesquisa de imagens, outubro 2011.

Em pouco tempo as produções começaram a aparecer. Das páginas de revistas despontaram composições de grande expressividade plástica com os mais variados temas. A maioria dos alunos havia compreendido o objetivo do trabalho e sua execução transcorreu de forma fluída e prazerosa.

Sem interferência da professora os alunos se expressaram escolhendo as imagens que melhor definiriam suas pretensões. Foi observada a discussão entre os alunos sobre a possibilidade de cada imagem e como cada um atribui significados diferenciados a mesma imagem. Tal exercício proporcionou ao alunado a ampliação do olhar perceptivo e interpretativo em relação às imagens.




           
        Aluno da turma 903 do Colégio Estadual Jardim Meriti elaborando sua colagem, outubro 2011.

Foi observado que a despeito do esclarecimento quanto aos procedimentos técnicos, alguns trabalhos revelaram a necessidade de um exercício mais apurado do processo de corte e colagem.

Quanto aos resultados imagéticos, a maior parte das composições foi muito bem sucedidas e a tarefa de dar novos significados às imagens retiradas de páginas impressas foi atingida. Uma nova sintaxe a partir de imagens já existentes gerou novas mensagens visuais. 

Afirmam Fuzari e Ferraz a necessidade cada vez mais aprofundada sobre o ato de observar e sobre as coisas observadas. Se as atividades de leitura visual, produção artística e história da arte forem trabalhadas também com o objetivo de exercitar e analisar esses modos de ver, olhar e observar, elas poderão auxiliar o domínio da visualidade e da comunicação visual na vida cotidiana. (Arte na educação escolar, 2001, p. 81).

Após a conclusão dos trabalhos, os alunos passaram à apresentação dos mesmos em sala de aula, quando foram elucidadas as questões acerca da mensagem que cada autor aspirou relatar por meio de seu arranjo de figuras. Este momento foi bastante enriquecedor, pois o alunado pode, na troca de informações sobre cada trabalho, apurar o olhar investigador sobre as imagens.

Martins, Picosque e Guerra afirmam que cada indivíduo, como ser simbólico que é, realiza o ato de simbolizar utilizando sistemas de representação para elaborar, objetivar seus pensamentos e sentimentos com o intuito de compreender o que pensa do mundo. Na linguagem da arte há criação, construção, invenção. Através dela o ser humano transforma a matéria oferecida pelo mundo natural e cultural em algo significativo (Didática do Ensino da Arte, 1998, p.36 e p. 54).

Tal transformação foi possível observar nas composições produzidas, repletas de significações. Em alguns temas, imagens com pouco apelo visual tomaram grande intensidade deixando ver a possibilidade de modificação de juízo que estas podem sofrer, dependendo do intuito do autor do trabalho.
Ana Mae Barbosa sustenta em A Imagem no Ensino da Arte que temos que alfabetizar para a leitura da imagem, que através da leitura das obras de artes plásticas estaremos preparando o público para a decodificação da gramática visual, da imagem fixa (p.36, 2009).

Para o trabalho com colagem o aluno passa por diversos aprendizados. O primeiro exercício no processo é o de ver, descrever, identificar e interpretar. Tal ação o encaminha ao exercício de aprendizagem sobre as imagens, quando pode expressar juízo de valor e desenvolver conceitos, relacionando estes com o ambiente em que vive. Posteriormente passa a produzir artisticamente e por meio da atividade criadora representa a si mesmo, suas questões e seu mundo.

Mais algumas produções dos alunos do Colégio Estadual Jardim Meriti
           
     
             
                                               

2.4 O processo de projeto no Centro Educacional Espaço Integrado

O mesmo projeto de trabalho com colagem foi aplicado no Centro Educacional Espaço Integrado, com uma turma de primeiro ano do ensino médio. O desenvolvimento foi seguido conforme a sequência programada no projeto, com a apresentação de slides e explanação histórica iniciando a tarefa. Este primeiro momento foi mais rápido que na experiência anterior, visto que os alunos já possuíam conhecimentos em arte mais amplos e seguros que o primeiro grupo. 

Após a explicação de todo o processo técnico para a elaboração de colagens, desde escolher as imagens até montar a composição, os alunos elegeram seus temas de trabalho e passaram imediatamente para a pesquisa em revistas, procurando material visual que traduzisse suas idéias e atendesse aos aspectos da atividade proposta no projeto. Alguns indivíduos foram intensos em seus temas revelando questões existenciais e emocionais.

Alunos do 1º ano do e. médio do C E I em pesquisa de imagens, março de 2012.
É preciso ressaltar que nesta instituição as aulas de arte acontecem em espaço próprio, com mesas amplas e todo o material à disposição dos alunos. Tal aspecto é grande facilitador no trabalho, pois o alunado pode desenvolver seu trabalho sem carência de recursos. 

É curioso observar que as mesmas imagens provocam diferentes reações em quem as observa. Dutra Pillar aponta que o observável tem sempre a marca do conhecimento, da imaginação de quem observa, ou seja, depende das coordenações do sujeito, das estruturas mentais que ele possui no momento, as quais podem modificar os dados. Assim, duas pessoas podem ler a mesma realidade e chegar a conclusões bem diferentes. (A educação do olhar, 1999, p. 13)

Percebeu-se no curso do trabalho, tanto no primeiro quanto no segundo grupo, que este momento pode ser de grande crescimento para o jovem observador de imagens, dadas as discussões que surgem durante a pesquisa. A percepção visual desenvolve-se e um olhar crítico se afina ampliando o repertório imagético.
      


                     Aluna em produção de colagem e trabalho pronto com tema Paz e Amor

Observando as produções concluídas com este novo grupo, foi possível observar que o contato com o ensino e aprendizagem da arte desde cedo o fez portador de autonomia no momento da elaboração artística. Os trabalhos apresentam qualidade abundante em conceito e produção.

Este grupo não possui conhecimento vago ou superficial, apresenta sim um olhar aprimorado, observador de detalhes, fruto do contato com a arte e com professores comprometidos com esse crescimento.

Ressaltam Fuzari e Ferraz que a educação através da arte é, na verdade, um movimento educativo e cultural que busca a constituição de um saber humano completo, total, dentro dos moldes idealistas e democráticos. (Arte na educação escolar, 2001, p. 19). E Ana Mae Barbosa que, se a arte não fosse importante não existiria desde o tempo das cavernas, resistindo a todas as tentativas de menosprezo. (Imagem no ensino da arte, p.27, 2009)

Bouro defende que, a arte como linguagem contribui para o maior conhecimento do homem e do seu ambiente. Portanto, a finalidade da arte na educação é propiciar uma relação mais consciente do ser humano no mundo e para o mundo capazes de atuar nas transformações da sociedade. (O olhar em construção, 2001, p. 33).

2.5. Conclusão do projeto Pedagógico em Ensino da Arte

O projeto pedagógico em ensino da arte se iniciou com a intenção de apresentar os resultados do estudo e da utilização da colagem como expressão artística, para os alunos do ensino fundamental II e do ensino médio, de instituições de ensino pública e particular. Exibir como um dos aspectos mais significativo da colagem a qualidade de abrir amplas possibilidades para o aluno expressar-se sem exigir longa aprendizagem, como no caso do desenho e da pintura e não requerer o emprego de materiais de alto custo.

A colagem é democrática e permite a qualquer indivíduo tornar-se um criador e assim ocorreu no desenvolvimento de projeto pedagógico em arte realizado com dois grupos distintos. 
O projeto elaborado iniciou-se com a apreciação da colagem na História da Arte, a aplicação da técnica por artistas, a observação dos aspectos técnicos da composição com colagem e culminou na formulação de um trabalho prático.

Os alunos manipularam revistas buscando figuras que narrassem o tema escolhido para suas composições. Muitas vezes as imagens passaram a relatar outras histórias, distintas daquelas a que foram destinadas originalmente. Aproximando e afastando, em um movimento de agitação das imagens recortadas o autor determina a posição ideal para cada uma. Decidida a localização das imagens, estas são coladas fixando, definitivamente, as mensagens que desejou relatar.

Esse exercício de observar para então recortar e aí testar todas as possibilidades de significados de cada imagem permite ao aluno treinamento do olhar e torna possível afastar- se de idéias pré-moldadas ou pré-definidas. Os conhecimentos em História da Arte sustentam as escolhas imagéticas, contribuem para impulsionar a visão crítica e assegurar o desenvolvimento de um senso estético.

A colagem é um trabalho de grande criatividade e de livre expressão tanto em composições abstratas como em composições figurativas. E nesse sentido os dois grupos demonstraram o quanto à operação de cortar, arranjar imagens e colá-las foi bem sucedida.

Os objetivos do projeto proposto foram alcançados. Teoria e prática foram abordadas. A maioria dos alunos demonstrou interesse pelas atividades propostas e prazer na execução do trabalho prático, compreendendo a importância da colagem como recurso artístico. Foram criadas composições que tinham a intenção de comunicar e expressar idéias com o uso de um alfabeto visual em crescimento. A sala de aula funcionou como um espaço de experimentação, de construção, de pesquisa, de criação e de troca de experiências.

O conteúdo do projeto foi adquirido pelo aluno e construído seu pensamento artístico em relação à colagem. Ao longo do desenvolvimento os trabalhos foram se transformando de acordo com as condições de cada um, sempre respeitando a individualidade dos alunos.

3. Considerações Finais


Neste trabalho monográfico pretendeu-se deixar clara a importância da colagem no ensino da arte e como esta possibilita a aproximação dos alunos com a leitura e interpretação das imagens.

Confirmar a colaboração da técnica para a aquisição de conhecimento, em arte, do aluno na medida em que o faz pensar a respeito dos significados das imagens conectando-o ao seu ambiente e cultura e que pode torná-lo independente sendo capaz de pensar suas próprias composições sem precisar de modelos pré-fabricados construindo base para um criador autônomo.

O estudo a respeito da técnica de colagem esclarece que esta tem grande importância para o aprimoramento imagético do alunado, entretanto sua prática não tem sido encarada com toda relevância que requer.

Desde o cubismo a colagem utiliza materiais não convencionais e alheios ao mundo acadêmico da arte. O conceito de fragmentação difundido por este movimento cabe perfeitamente no processo de cortar e colar formando uma nova e ousada realidade. 

Nos estudos para a monografia foi desenvolvido projeto pedagógico que confirmou o quanto a colagem contribui com a “alfabetização” visual dos alunos. Partindo de um percurso histórico o aluno foi levado a elaborar uma composição utilizando a colagem como técnica e que foi o produto palpável da construção de conhecimento em arte visual.

O que me inquietou para desenvolver este estudo foi observar que a colagem é muita vezes vista como técnica de menor valor em relação ao desenho e a pintura. Vista como um método que não necessita de aprimoramento técnico e estudo, a colagem recebe pouca atenção no ensino da arte e sua utilização se concretiza, nas séries iniciais da educação. Assim, justifica-se a relevância de um estudo que empreenda uma nova perspectiva à sua aplicação pedagógica.

Através da arte podemos ler e compreender o mundo e a colagem pode trazer novos recursos para essa compreensão.

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