sábado, 13 de março de 2010

Colagem - Esta técnica tem História - Como nasceu o ''recorta e cola''


Mostra em Nova York reúne fotocolagens das súditas da rainha Vitória, que usavam a técnica para entreter amigos e exibir status

"Como nasceu o recorta e cola"

Artigo de Tonica Chagas, publicado no jornal O Estado de São Paulo - 03/03/2010



Com suas tesourinhas, potinhos de cola e aquarela, senhoras e senhoritas da aristocracia britânica já criavam fotocolagens cheias de imaginação décadas antes de a vanguarda artística do início do século 20 começar a compor com essa técnica. Organizada pelo Art Institute of Chicago e em exibição no Metropolitan Museum, a pequena e divertida Playing with Pictures: The Art of Victorian Photocollage lembra este fenômeno pouco conhecido da fotografia de meados do século 19. Os 48 trabalhos reunidos ali, entre eles um de autoria da princesa Alexandra (1844-1925) e cedido pela rainha Elizabeth II, mostram um aspecto da sociedade vitoriana guardado em álbuns feitos para entreter amigos, puxar conversa com pretendentes e exibir o círculo de amizades, real ou não, de suas criadoras.


Uma das coisas que estimulou aristocratas vitorianas a criar seus álbuns foi o uso das cartes de visite, os cartões de visita com retratos, que disseminou a fotografia entre a classe média e deu celebridade a gente da high society. Com uma câmera de quatro lentes, podia-se expor oito retratos com poses diferentes num único negativo em placa de vidro, barateando e multiplicando a produção. Colecionar retratos de amigos, parentes e figuras da nobreza virou, então, uma febre, a cartomania. Em vez de apenas guardar os retratos em álbuns comuns, as britânicas ricas e educadas os recortavam e colavam em cenas elaboradamente desenhadas com aquarela nos seus álbuns especiais.

Para uma súdita da rainha Vitória, desenhar e pintar demonstravam não só refinamento e talento como também eram sinal de status, de que ela tinha meios para comprar manuais e pagar aulas particulares. Na época, como era preciso muito tempo de exposição do negativo para capturar uma imagem, as pessoas posavam para a câmera como tableaux vivants e aquelas artistas produziam as colagens dos seus álbuns da mesma maneira. Uma das vantagens que tinham era representar situações impossíveis de fotografar, como pessoas passeando ao luar, por exemplo, pois ainda havia limitação técnica para capturar movimento com pouca luz.


A fantasia visual nos álbuns de Playing with Pictures demonstra também o humor de quem os criou. Composições com cartas de baralho lembram um passatempo comum da alta sociedade vitoriana, assim como o "mixed pickles", jogo em que se formam sentenças engraçadas com palavras escritas em papeizinhos tirados ao acaso de dentro de um jarro. Outra inspiração comum eram as histórias infantis dos Irmãos Grimm, de Hans Christian Andersen e o Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, que induziam a brincar com proporções, fazer combinações surreais de cabeças humanas com corpo de animais ou armar cenários de contos de fadas com rostos de criancinhas de verdade.


Alimentados pela troca de cartes de visite, os álbuns também funcionavam como um site de relacionamento social de hoje em dia. Quanto mais figurão aparecesse em seu álbum, mais alto seria o lugar de sua dona nos escalões do "quem era quem" da sociedade vitoriana. Às vezes esse status nem vinha do berço, como era o caso de Mary Georgiana Caroline Filmer (1840-1903). Apesar de não ter título aristocrático, desde cedo ela circulou no meio político e no grand monde de Londres. Fotos dela aparecem nos álbuns da princesa Alexandra e da condessa de Yarborough e sabe-se que o príncipe de Gales, o futuro Eduardo VII e conhecido mulherengo, manteve um longo flerte com ela por meio de cartões de visita. Num de seus álbuns, numa cena de visita em sua sala de desenho, lady Filmer colocou o príncipe em lugar de destaque e colou uma foto menorzinha do marido sentado perto de um cachorro.


Os álbuns reunidos em Playing with Pictures formam um autorretrato coletivo da aristocracia vitoriana e apontam as origens da fotocolagem como arte. Enquanto a maior parte da fotografia britânica naquele período era produzida por homens, exibida em salões anuais e impressa para venda, as mulheres a usaram para o prazer particular e anteciparam movimentos artísticos tão importantes como o surrealismo e o construtivismo.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Colagem - Silvio Alvarez - Projeto Terras Indígenas

Recebi o convite para participar do projeto e logo fiquei bastante empolgado com a idéia proposta. O projeto Terras Indígenas é uma exposição coletiva de artes plásticas com curadoria de Cláudia Camposs, que será realizada de 19 a 26 de Abril de 2010, durante a Semana dos Povos Indígenas, no Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília.



O projeto propõe que cada participante crie um trabalho artístico inspirado num povo indígena. Aproximadamente 60 artistas responderam à convocatória. A este arteiro que vos escrevinha coube falar do povo Coripaco.

Os Coripaco vivem na Colômbia e no Alto Içana (Brasil). Já os Baniwa vivem na fronteira do Brasil com a Colômbia e a Venezuela. As duas etnias, aparentadas e vizinhas, têm em sua cultura muitos pontos em comum.

Pesquisei na internet, li muita coisa sobre as etnias e nada de vir inspiração. Faltava emoção. Como ainda não ficou pronta a Estação Alto Rio Negro do Metrô para ir lá conferir de perto como vivem os índios, resolvi procurar alguém que pudesse me contar algo a respeito dos Coripaco. Procurava uma lenda, mágica, intensa e surreal.

Vasculhando aqui, xeretando acolá, li sobre o estudioso americano Robin M.Wright, antropólogo e professor de religião, especializado em religiões indígenas sul-americanas. Para ter uma idéia do conhecimento dele, praticamente todo o conteúdo que trata dos Coripaco e dos Baniwa no site do Instituto Sócio Ambiental (ISA) é de sua autoria. Com a cara de pau de sempre, resolvi escrever para o homem. O máximo que poderia acontecer era eu ficar sem resposta.

Não fiquei, muito pelo contrário. Professor Robin me adicionou no Skype, pediu mais informações e em poucos dias eu estava com um material riquíssimo. Que incluía a História da Criação, a ele transmitida pelo xamã Baniwa Matteo Pereira e muitas fotos.



Para compor o quadro A Criação (colagem sobre madeira – 40 x 38 cm) busquei inspiração no seguinte trecho da narração:

Ele (o Criador) foi para o umbigo do universo em Hipana. (uma cachoeira, onde teriam sido criados todos os povos da região). Ele ouviu as pessoas saindo do umbigo (um buraco no meio da cachoeira, na rocha, de onde saíram os antepassados dos povos). Eles saíram um após o outro e Ele deu a cada um a sua terra. Então Ele começou a noite, o cesto contendo a noite abriu-se um pouco e a noite veio cobrindo o mundo em trevas”.


Site do Prof. Robin Wright http://www.robinmwright.com/Biography.html