Fascinado pela obra do artista holandês Hieronymus Bosch, O Jardim das Delícias Terrenas, pintada entre 1480 e 1490, tive a idéia de reunir imagens que citassem o erotismo e sexualidade na História da Humanidade, desde os primórdios, e de ambientá-las na paisagem surrealista criada por esse grande mestre da pintura.
Com esse objetivo, pesquisei durante um bom tempo a respeito do pintor, da obra e passei a colecionar figuras relativas à composição almejada.
O garimpo de imagens empregadas na releitura levou cerca de 4 anos e o processo final de produção (recorte e colagem) levou cerca de 6 meses.
Passo a passo da produção da releitura em collage de O Jardim das Delícias
As imagens mais complexas eram pré preparadas antes de serem inseridas no quadro.
Selecionei uma grande quantidade de personagens, não utilizada em sua totalidade. Em geral, para a produção dos meus quadros, tenho o hábito de selecionar mais imagens do que necessário, até para ter uma gama maior de opções no processo final de produção. Contudo, para a releitura de O Jardim das Delícias o volume de imagens foi bem maior do que de costume.
A minha releitura para O Jardim das Delícias foi produzida em base de MDF e concluída em 2013, tem 150 x 150cm e participou da exposição anual no Conjunto Nacional – Avenida Paulista. Foi muito bom constatar que o fascínio pela obra era comum ao de muitas outras pessoas que visitaram a exposição.
O holandês Jeroen van Anthoniszoon Aken (1450-1516), conhecido pelo pseudônimo de Hieronymus Bosch, criado por ele mesmo, e como El Bosco, na Espanha, foi pintor e gravador.
O quadro fechado na sua parte exterior alude ao terceiro dia da criação do mundo. Representa um globo terráqueo, com a Terra dentro de uma esfera transparente, símbolo, segundo Tolnay, da fragilidade do universo. Há apenas formas vegetais e minerais, não há animais nem pessoas. Está pintado em tons grises, branco e preto, o que se corresponde a um mundo sem o Sol nem a Lua embora também seja uma forma de conseguir um dramático contraste com o colorido interior, entre um mundo antes do homem e outro povoado por infinidade de seres.
Ao abrir-se, o trítico apresenta, no painel esquerdo, uma imagem do paraíso onde se representa o último dia da criação, com Eva e Adão, e no painel central representa a loucura solta: a luxúria. Nesta tábua central aparece o ato sexual e é onde se descobrem todos os prazeres carnais, que são a prova de que o homem perdera a graça. No compartimento central do tríptico, estão representados nus de ambos os sexos unidos em pares ou em grupos, alguns envolvidos em curiosas formas vegetais e minerais.
A parte superior da composição é ocupada pela cavalgada da libido em torno da fonte da juventude. No lago circular, se banham mulheres que carregam na cabeça corvos (símbolos de incredulidade), pavões (símbolos da vaidade) e íbis (que aludem às alegrias do passado). A referência à luxúria e a outros pecados é dada pelos animais que participaram do passeio a cavalo.
Por último temos a tábua da direita onde se representa a condena no inferno; nela o pintor amostra um palco apoteótico e cruel, no qual o ser humano é condenado pelo seu pecado.
Atualmente apenas se conservam cerca de 40 originais seus, dispersos na sua maioria por museus da Europa e Estados Unidos. Dentre estes, a coleção do Museu do Prado de Madrid é considerada a melhor para estudar a sua obra, visto abrigar a maioria daquelas que são consideradas pelos críticos como as melhores obras do pintor, incluindo o tríptico O Jardim das Delícias Terrenas.
As obras de Bosch demonstram que foi um observador minucioso bem como um refinado desenhista e colorista. O pintor utilizou estes dotes para criar uma série de composições fantásticas e diabólicas onde são apresentados, com um tom satírico e moralizante, os vícios, os pecados e os temores de ordem religiosa que afligiam o homem medieval.
É inegável a influência da obra de Bosch no movimento surrealista do século XX, que teve mestres como Max Ernst e Salvador Dalí.
Fotos: KK. Alcovér
Hieronymus Bosch e O Jardim das Delícias Terrenas – Wikipedia
http://pt.wikipedia.org/wiki/Hieronymus_Bosch
http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Jardim_das_Del%C3%ADcias_Terrenas
Coleções Abril - Grandes Mestres - Bosch
Museo Nacional Del Prado – España
https://www.museodelprado.es/
Releitura de Silvio Alvarez ilustra revista digital de Estudos Judaicos da UFMG
http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/maaravi/article/view/5445/pdf
Não sei o que é melhor a preparação ou o quadro final que não conheço pessoalmente, mas com certeza deve ser o fruto belo da sua paciência e dedicação. Queria colocar no meu blog, tudo bem
ResponderExcluirLógico que sim, Maria Lúcia. Fique à vontade! Um abração.
ResponderExcluirMeu professor cutucou uma veia adormecida em mim. Quando penso em colagens eu penso em você.Parabéns por sua delicadeza, humildade e alegria para ensinar bjs
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